«(…) A questão da arte merece uma menção especial. Aqui não é suficiente a clareza das orientações mas é necessário integrar as teses “justas” com aquela infalibilidade do gosto que confere a um “sentimento do mundo” nobreza artística.
O que é a arte de “direita”? Não se trata simplesmente de escrever bons romances ou poesias diferentes pelo seu conteúdo mas sim de exprimir uma diferente tensão estilística. Existem livros de autores comprometidos com a “direita” nos quais dificilmente se encontra esta nova dimensão. Contudo, ela pode surgir em autores menos comprometidos. Veja-se, por exemplo, Sobre as Falésias de Mármore de Ernst Jünger. Este autor, se num determinado momento esteve muito próximo do nacional-socialismo, afastou-se em seguida assumindo posições críticas. Mas dificilmente podemos encontrar algo que seja mais propriamente de “direita” do que essa novela: a impessoalidade aristocrática da narração, o estilo impecável e cintilante, a ausência do mínimo resquício de psicologismo burguês tornam-no num modelo dificilmente olvidável. Em geral estas características encontram-se em todas as melhores obras de Jünger. O conteúdo literário de Jünger é algo precioso.
Mas um sentimento artístico de “direita” pode alimentar também uma matéria seca, pobre, “naturalística”. É assim com os romances do norueguês Hamsun, em grande parte histórias das gentes rurais do Norte: pescadores, marinheiros, camponeses. Também aqui, ainda que em tom menor, uma dignidade firme e comedida e, ao mesmo tempo, um elemento mítico presente nas vicissitudes destas almas simples que lutam contra o destino na atmosfera magnética da paisagem boreal.
Aqui devemos limitar-nos a um par de exemplos, os primeiros que nos vêm à mente. Mas qualquer um pode compreender aquilo que quisemos dizer e integrar estas indicações com a sua sensibilidade e conhecimentos.
Estas reflexões valem para toda a arte: O conteúdo passa em segunda linha sob a forma. Veja-se por exemplo a desenvoltura com que o Fascismo se apropriou da arquitectura moderna para exprimir um sentimento do mundo que não é “moderno”. Veja-se a arquitectura clássico-moderna da Universidade de Roma ou aquela do Foro Mussolini. Tratam-se de obras menores, mas de obras bem conseguidas, e o espírito que emana daquela cintilante geometria não é a aridez dos arranha-céus, mas a substância dura e luzente da alma antiga: ordem, medida, força, disciplina, clareza.
E venhamos a uma arte menor, o cinema. Também aqui faremos algumas reflexões dispersas que podem servir para enquadrar o problema. Qualquer um pode ver que L’Assedio dell’Alcazar (1940) é um bom filme de propaganda fascista. Mas, em rigor, com a mesma linguagem poder-se-ia ter feito também uma epopeia antifascista. Ao invés, algumas das cenas filmadas pelo judeu comunista Eisenstein (lembramo-nos de alguns fotogramas de Ivan, o Terrível) pelo seu misticismo nacionalista e autoritário não podem deixar de ser definidas de “direita”. Assim, é sabido que Fritz Lang, o director de Os Nibelungos, era um comunista convicto que abandonou a Alemanha com a chegada de Hitler. Mas poucos outros filmes para além da sua obra-prima conseguem exprimir a Stimmung heróica, mítica e pagã da Alemanha nacional-socialista. E Goebbels demonstrou uma notável inteligência quando pensou nele para a direcção do filme sobre o congresso de Nuremberga.
Mais um exemplo: Ingmar Bergman. Este autor não pode certamente ser considerado “fascista” (ainda que alguns comunistas o tenham tentado fazer). Mas em algumas das suas obras está presente uma tal potência simbólica que – transportada da arte para o domínio social – não pode deixar de exercitar algumas sugestões precisas que os adversários definiriam de bom grado “irracionalistas e fascistas”. Temos presentes algumas cenas de O Sétimo Selo. Recordem-se as paisagens míticas e solenes, a presença do invisível no coração do visível, o drama do herói. Aqui não se pretende brandir nenhuma mensagem política mas a impressão que o espectador retira não tem nada de “democrático”, “social” e “humanístico”.
Naturalmente, também aqui é o instinto que decide. Quem é verdadeiramente de “direita”, quem interiormente está marcado por certos valores, por um ethos particular, saberá imediatamente distinguir as expressões artísticas que pertencem ao seu mundo. Estética provém de aisthänoma, um conhecimento por sensação imediata.
As considerações aqui expostas não têm um carácter sistemático. Pretendem apenas afrontar um problema, não defini-lo. Por outro lado, neste campo bastam orientações genéricas. Para além destas, cada um deverá proceder com os seus conhecimentos e capacidades. Bastam poucos traços para delinear as linhas de desenvolvimento de uma cultura de direita. Mas esta orientação abstracta começará a tomar forma concreta quando os homens começarem a escrever e a fazer».
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Retirado de Adriano Romualdi, Perché non esiste una cultura di Destra.
[Versione portoghese di O Fogo da Vontade]
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